quarta-feira, 19 de agosto de 2015

2ª edição do festival Kino Beat

A segunda edição do Kino Beat aconteceu entre os dias 6 e 9 de agosto, no Teatro do Sesc Centro e no Multipalco Theatro São Pedro. O festival de música e performances audiovisuais multimídia tem a curadoria e idealização do DJ e produtor cultural Gabriel Cevallos, sendo um dos poucos no Brasil que se dedica a inovações artísticas experimentais no campo sonoro e visual. Comparado à edição de 2014, a segunda edição do Festival teve o dobro de dias e três vezes mais atrações: dez, entre nacionais e internacionais, sendo todas inéditas em Porto Alegre. 

Teatro do Sesc Centro - entre 6 e 8 de agosto

A primeira noite do Festival, no dia 6 de agosto, contou com Giuliano Obici e sua performance Laptop Coral, e com Castanha Remix, performance criada a partir do filme “Castanha” de Davi Pretto. Duas atrações distintas entre si, mas que se uniram no sentindo de apresentar ao vivo experimentos de som e imagem. 
A performance do Laptop Coral abriu a noite. Com 12 laptops no palco, as máquinas não só representavam pessoas, mas assumiam sua própria “humanidade” no momento que estabeleceram uma comunicação ruídosa, intercalada com silêncios, cores e códigos, entre elas e com o público. Giuliano não fez as máquinas cantarem como a maioria do público poderia esperar de um coral convencional: ele foi além e fez pulsar um coração em 12 laptops. 

 

Castanha Remix, feita especialmente para o Festival, foi gerida durante três meses por Gabriel Cevallos e Tomaz Klotzel. A performance desconstruiu o filme “Castanha”, de Davi Pretto, criando uma nova narrativa. O ator João Carlos Castanha interpretou partes do filme e improvisou textos de sua autoria. O palco foi transformado em um camarim, onde Castanha se preparava para seu número de dublagem. Enquanto isso, o artista multimídia Klotzel editava e projetava partes do filme e, com uma câmera, captava em tempo real as expressões de Castanha e as ampliava na tela. A performance se revelou uma peça de teatro multimídia melodramática, como o bolero de Tânia Alves que o artista dublou. A performance abordou a relação de Castanha com a mãe, com a morte e seus amores, sempre com seu habitual escracho, pelo qual é conhecido. A tecnologia foi a liga discreta e eficiente que conduziu esse experimento de dar vida, no palco, a um filme, criando uma nova história.

 
 

O músico gaúcho Pedro Dom, acompanhado de uma banda completa no palco, abriu a segunda noite do Kino Beat com o show de lançamento do seu primeiro disco solo. Foi a apresentação musical mais orgânica do Festival: durante uma hora, Dom fez um passeio jazzístico suave e harmônico - na sua maioria instrumental - mas com participações de dois MC's e dois cantores. Mesclou com maestria sua verve acadêmica e sua vivência de rua. Trouxe para o Festival um sentido enorme de amplitude na programação, do tamanho do seu talento.

 

Fechando a segunda noite, o artista multimídia Henrique Roscoe, também conhecido como HOL, apresentou Synap.sys, a apresentação mais densa do Festival. Um completo espetáculo audiovisual, repleto de metáforas e significados subjetivos. HOL controlava, em tempo real, som, imagem e lasers, com destaque para a guitarra midi, construída pelo próprio - com design que remetia visualmente às conexões das sinapses, que dá nome a performance. Alternando batidas retas e quebradas, atmosferas, ruídos e texturas eletrônicas, com o som futurista da guitarra e as imagens fractais, super 8 e outros grafismos, a apresentação foi uma viagem profunda nas emoções do artista mineiro.

 

A terceira e última noite do Festival no Teatro do Sesc começou com a estreia de Valmor Pedretti e Carlos Ferreira, com The Rise and Fall of Ice-Pick Lobotomy. A dupla gaúcha fez uma apresentação contemplativa e instigante: ambos tocaram guitarra, disparando samples e loops, gravando ao vivo ruídos de chaves, latas e frequências de rádio. Criaram uma aura de concerto contemporâneo no teatro, evocando o espírito de John Cage a cada som e silêncio da performance.


O alemão Frank Bretschneider, lenda da música e arte experimental, foi a última atração do Festival no Teatro do Sesc, com uma apresentação audiovisual viceral e pontente. Como um cirurgião, operou com precisão a construção de um espetáculo em que som e imagem tinham total sincronia. A parte musical dominada por interpretações próprias da música urbana global, como funk, hiphop, industrial e techno, saiam retorcidas e com um grave potente das caixas de som. Quando somadas às variações geométricas de círculos e quadrados em centenas de padrões, criaram uma viagem sinestésica eletrônica, digna de um mestre.
 

Multipalco do Theatro São Pedro - 9 de agosto


O último dia do evento aconteceu no Multipalco do Theatro São Pedro, a céu aberto. A ideia era levar para a rua um espectro amplo da produção eletrônica dançante. O DJ gaúcho Castelan, que passeou por Future Beats, house e downtempo, abriu a festa de encerramento do Festival. Logo após o francês High Wolf, que se apresentava pela primeira vez no Brasil, fez a apresentação mais inusitada do dia. Destilou padrões rítmicos complexos e sincopados e, acompanhado de sua guitarra melódica, criou um pequeno ritual afro-asiático na pista.

 

O sueco Baba Stiltz, também pisando pela primeira vez em terras brasileiras, animou a pista com uma mistura de batidas 4x4 cruas e gordas, hipnóticas e minimalistas, e outras festivas e expansivas. Todas pulsavam dos seus discos de vinil e balançavam junto com seus cabelos longos, em uma performance de palco que também fez parte do show. 

A última atração do festival foi o mineiro Zopelar. Cheio de equipamentos no palco, fez uma apresentação ao vivo de techno, uma das principais apresentações live do país. Energético, melódico, atemporal e orgulho nacional, fechou a segunda edição do Festival Kino Beat.


O 2º Festival Kino Beat foi uma realização do Sesc RS em parceria com o Kino Beat
Tudo isso não aconteceria sem nossos apoiadores:
Consulado Geral da França, 
Pejole

Ano que vem tem mais.