sexta-feira, 4 de abril de 2014

AQUECIMENTO KINO BEAT: 5 LINKS DE IMAGEM QUE VOCÊ NÃO PODE PERDER

Pra ir aquecendo para o Kino Beat, separamos 5 links que você não pode deixar de conferir antes de ver o Festival de perto. Olha só:

Creators Project apresenta o trabalho de Fernando Velázquez se baseando em suas imagens generativas e vídeos.

Sun Ra - Strange Celestial: O jazzista experimental que inspirou Diego Abelardo, uma de nossas atrações. Escute o álbum na íntegra no YouTube.

Sessão de gravação com o baterista Sam Tiago, baterista da Orquestra Vermelha.

Fernando Velázquez se inspirou para Mindscapes lendo um dos trabalhos de Oliver Sacks, um neurocientista inglês. Tempo de Despertar, um dos filmes de Sacks, virou um filme com Robert de Niro.

“Night Lights” é uma canção do carioca Secchin, que leva a participação de Maria Luiza Jobim, do duo Opala. A música é fantástica, mas o clipe, surpreendente. Vale dar uma olhada.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

DO RUÍDO (NOISE) À MÚSICA ELETRÔNICA ATUAL


A música como conhecemos é um privilégio dos dias atuais. Nossos ouvidos podem reconhecer milhares de sons diferentes e combiná-los de forma harmônica. A variedade de sonoridades aumentou gradativamente com a industrialização – e o mundo nem sempre foi um lugar tão barulhento. 

L'arte dei rumori (A Arte dos Ruídos) foi escrito por Luigi Russolo, em 1913, e fala exatamente sobre isso. De acordo com o italiano, os primeiros ruídos surgiram no século XIX, com o surgimento da máquinas industriais. Antes disso, o mundo era quieto – não silencioso. O som que pontuava a terra vinha de atividades naturais como a chuva e cachoeiras, mas não era prolongado, constante ou variado. 
Russolo atribui a evolução musical à multiplicação de máquinas. A música caminha para uma polifonia mais complicada à medida que a variedade de timbres e tons crescem – o que encorajava os músicos à criação. 

Artistas experimentais como John Cage e Pierre Henry consideram Russolo o precursor da música eletrônica contemporânea. E para provar sua própria teoria, Russolo construiu os instrumentos para a sua orquestra, Intonarumori.

A partir do estudo A Arte do Ruídos, a música passou a ser vista e pensada de maneira diferente. Russolo sugeriu que o homem moderno tem grande capacidade de apreciar sons mais complexos. E ele estava certo. 

quarta-feira, 2 de abril de 2014

AS PERFORMANCES AO VIVO NO FESTIVAL KINO BEAT

Uma das propostas do Kino Beat é desmistificar a ideia da Música Eletrônica como uma “música de festa”, “música para se ouvir em festa”. Todas as apresentações do Festival acontecem no Teatro do SESC, onde o público pode curtir as atrações no conforto de um teatro, trazendo assim uma proposta poucas vezes vista na cidade.

Além disso, é importante ressaltar o quanto o fato das performances serem ao vivo influenciam no resultado final dos concertos. Influências de público e do ambiente transformam a apresentação em um momento único, ímpar.

Um dos grandes exemplos dessa ideia é Fernando Velázquez. Usando algoritmos generativos e técnicas de improvisação audiovisual em tempo real, ele cria a sua performance do projeto Mindscapes. A ideia é especular sobre tudo o que influencia no modo em como vemos o mundo, construímos o conhecimento e articulamos memórias.

Para entender melhor, dá só uma olhada no vídeo:

Festival Multiplicidade_02_2013 from Festival Multiplicidade on Vimeo.

Matheus Leston, da Orquestra Vermelha, acredita que  “algumas variações e decisões são feitas ao vivo e podem mudar a cada apresentação”. Ele ainda lembra que o seu show possui sim uma estrutura pré-concebida, já que “existe uma progressão, uma espécie de história que é contada, musical e visual”, afirma.

Por outro lado, Leston ainda lembra que a abertura para a improvisação e inspirações ao vivo pode parecer um tanto engessada, uma vez que a sua interação é feita com imagens já previamente editadas. Mas na hora da sua composição, ela teve um papel fundamental: “Os músicos, quando foram gravar suas participações, tocaram livremente, improvisando sobre as bases que eu havia criado. Essas gravações depois foram editadas. Ou seja, há uma inversão, pois há improviso, mas não é ao vivo”, lembra.

Outro ponto trazido pelo curador do Festival, Gabriel Cevallos, é o fato de que ao vivo (e sentado) a imersão do público é maior. “Pelo conforto de se estar sentando, a concentração e foco nos detalhes é diferente, é mais cerebral do que visceral, tem menos dispersão do que se fosse em uma festa”, lembra. “É um momento que pode-se ousar mais, pois não tem a necessidade da dança, dos deslocamentos, então são atrações mais sensoriais”, completa.

Partindo dessas crenças, o Kino te convida a conferir de perto – ao vivo e a cores – toda a nossa programação, que rola entre os dias 26 e 27 de abril. Para mais informações sobre o Festival, clique aqui.

terça-feira, 1 de abril de 2014

ORQUESTRA DE UM HOMEM SÓ: CONHEÇA A ORQUESTRA VERMELHA, PROJETO DE MATHEUS LESTON


Propor uma junção entre imagem e som, gerando uma sensação única. Essa é a proposta de Matheus Leston e o seu Orquestra Vermelha, projeto que se apresenta no Kino Beat na noite do sábado. A Orquestra é, na verdade, um quinteto, mas apenas um dos músicos está no palco. Os outros são sombras, exibidas em tamanho real em grandes telas de LED.

Batemos um papo com Matheus, que nos contou como nasceu o projeto, e como funciona o seu processo de composição musical e imagética. “A experiência é de uma banda tradicional, pois parece que os músicos estão no palco (tanto por causa do som quanto da imagem). É música eletrônica, mas não é”, afirma.

Ficou curioso? Chega mais:

Como surgiu a ideia do projeto Orquestra Vermelha?
A Orquestra Vermelha é o desenvolvimento de uma pesquisa que eu já havia começado em um outro projeto, chamado Ré: um show em que eu gravava e sobrepunha uma série de loops de guitarra, baixo e teclado, construindo as bases ao vivo. As melodias eram cantadas por outros músicos que haviam sido gravados e filmados em suas próprias casas, exibidos em duas grandes telas de projeção.

Quais foram as principais inspirações para o projeto?
Puxa, é muito difícil falar em inspirações diretas. Ele é o cruzamento de muitas coisas que tenho visto e pensado há muitos anos, tanto da música como de outras áreas e artes. Talvez eu possa citar como referências conceituais mais claras a geometria e a ocupação do palco do Kraftwerk, tocar na contra luz de maneira similar ao The Mole Show, dos Residents. Talvez a influência estética mais forte seja das artes: o minimalismo americano, Olafur Eliasson, Kurt Hentschlager. Musicalmente a coisa fica impossível de definir. Vai de Massive Attack a King Crimson, de música erudita a free jazz, de Motown ao pós-rock.

O projeto questiona a significância da apresentação ao vivo hoje em dia. Referente a esta discussão, pode-se chegar a alguma conclusão?
Na minha opinião não há uma conclusão, não há uma resposta, pois não acho que haja uma pergunta. A Orquestra Vermelha está bem no meio de uma encruzilhada das relações entre áudio e vídeo, playback e ao vivo, presença e ausência, improvisação e estrutura, luz e sombra, figura e fundo, base e solo. Essas relações nem sempre são harmoniosas. Pelo contrário, algumas são contraditórias e problemáticas. Ao invés de se decidir por um lado ou outro, a Orquestra acaba se tornando uma espécie de paradoxo, tentando ser as duas coisas ao mesmo tempo. Por exemplo: é ao vivo e é playback. Talvez essa seja a melhor posição para evidenciar essas contradições. Minha única conclusão é que refletir sobre a forma de uma apresentação é cada vez mais importante.

Como funciona o processo de composição musical do projeto?
Assim que saiu o resultado do Programa Rumos (do qual o projeto faz parte) em dezembro de 2012 eu comecei a vasculhar meus HDs e juntar todos os rascunhos e anotações musicais que pude encontrar. Eu tenho grande dificuldade com composição, não consigo iniciar uma música, desenvolvê-la até o final e, em certo ponto, declará-la terminada. Acabo tendo ideias, gravando pequenos fragmentos e abandonando-os, sem nunca fazer nada com eles.

Eu selecionei, editei e trabalhei sobre os fragmentos que achei. No fim desse processo, tinha uma série de loops (e não músicas estruturadas) bastante simples. A partir dai começaram as gravações: apresentava esses loops para um músico, que gravava livremente sobre eles o que achasse melhor. Eu editava essa gravação e apresentava para o próximo músico, e assim por diante.

Depois das gravações dos seis participantes, eu ouvi tudo o que havia sido gravado e editei todo o material. Em muitos casos as músicas haviam se transformado totalmente e já não tinham nada a ver com a base inicial. E com todo o material editado, fiz várias experiências e versões até chegar na estrutura final do show.

E a composição das imagens do projeto, se deu de forma semelhante?
Os vídeos exibidos ao vivo são as imagens reais das gravações. Enquanto os músicos gravavam eles também eram filmados em frente a um fundo branco, na contraluz. Ao editar o áudio eu também editava o vídeo, para manter a sincronia. E com o show estruturado musicalmente, passei a trabalhar as imagens e definir as cores, criar alguns efeitos e programar a iluminação, que também é controlada ao vivo.

Qual a relação entre música e imagem no Orquestra Vermelha?
Eu parto do princípio que audição e visão são totalmente interligadas. Não tenho dúvida de que o som muda a maneira como nós entendemos uma imagem. E o contrário também é verdade: nós ouvimos de maneira diferente de acordo com o que estamos vendo. Por isso eu penso que um show é sempre uma experiência visual, mesmo quando não há efeitos cênicos, vídeos, iluminação. O próprio fato de ver um músico tocando faz com que a gente ouça de maneira diferente.

Na Orquestra Vermelha essa relação é levada ao extremo e posta em primeiro lugar. Os vídeos não são apenas um acompanhamento das músicas, eles são parte integrante do espetáculo.

A música eletrônica abre espaço para o experimentalismo. O que isso acrescenta ao processo criativo e ao resultado final?
A relação entre música eletrônica e instrumentos tradicionais também é uma das possíveis contradições da Orquestra. Não seria errado dizer que é um show eletrônico: estou apenas eu no palco com computadores. Todas as gravações dos outros músicos são samples digitais. Porém a experiência é de uma banda tradicional, pois parece que os músicos estão no palco (tanto por causa do som quanto da imagem). É música eletrônica, mas não é.

segunda-feira, 31 de março de 2014

O QUE É O KINO BEAT

Movimento+ Batida. Unir arte e música contemporânea. De uma ideia que parece ser incialmente simples, nasceu o Kino Beat, Festival que investiga a relação entre o som e a imagem. Kino vem da tradução em grego para movimento e do alemão cinema. Já Beat vem do inglês batida e ritmo do som.

O Kino Beat foi criado pelo produtor cultural e DJ Gabriel Cevallos com o intuito de explorar temáticas ligadas à imagem e à música contemporânea. Além disso, o Kino ainda pretende debater e estudar os desdobramentos da arte digital, como a tecnologia de imagens generativas, e, no som, experimentações de música orgânica e eletrônica.

O projeto nasceu em formato de mostra cinematográfica em 2009, já sob a curadoria de Gabriel Cevallos, criador do projeto. Em 2014, a primeira edição do Festival vai revelar atrações inéditas na capital, como Opala – banda formada por Lucas de Paiva e Maria Luiza Jobim, filha do mestre Tom Jobim – e o premiado artista Fernando Velásquez, uruguaio radicado no Brasil.

Para entender melhor a iniciativa, conversamos com Cevallos, que explica melhor a ideia do projeto.

O Kino Beat nasceu de uma inquietação tua? Da onde surgiu a ideia de fazer o Festival?
A marca Kino Beat nasceu em 2009, quando eu trabalhava como estagiário na CCVF - Coordenação de Cinema, Vídeo e Foto da Secretaria Municipal de Cultura. Fui instigado a fazer um projeto em que eu pudesse coordenar, e foi quando nasceu a Mostra Kino Beat de filmes relacionados a música eletrônica.

No ano seguinte, saí da CCVF mas o projeto continuou com mais 2 Mostras de Filmes, já abertas ao universo da música como um todo. Paralelamente surgiu o Kino Beat ao Vivo, projeto de performance audiovisuais, em formato de show, espetáculo, com experimentações entre som e imagem. O Festival é uma evolução da programação e formato do que começou em 2009, centrando nessa 1˚ edição somente em shows, mas para as próximas edições já pensamos na exibição de filmes, palestras, exposições. Mas sim, ele é fruto da minha inquietação de querer trabalhar e expor um conteúdo de arte alternativo na cidade, de ser um espaço pra quem goste de se surpreender, conhecer artistas e propostas artísticas que busquem a novidade na invenção.

E quais são os maiores desafios do Festival?
Além dos mais diretos que é realmente sair do papel, ter grana pra fazer e espaço, por isso esse parceria com o SESC POA é tão imporantente, é transparecer de forma clara e objetiva suas intenções para um público novo e pro próprio público já iniciado. É ser visto como uma plataforma séria de proposição cultural pra cidade, a de oferecer algo para o povo que não seja o de sempre, e ter um espaço cada vez maior pra isso, seja na mídia ou no imaginário das pessoas.

Como foi a recepção do público na primeira mostra? Qual é a tua expectativa para a primeira edição do Festival?
Todas as 7 edições entre Mostra KB e KB ao Vivo foram sempre muito boas, seja de público, proporcional ao seu tamanho, e até de mídia. O interesse sempre veio com bastante curiosidade e aceitação, principalmente de quem já consome esse tipo de arte, que é carente de ações parecidas na cidade. Minha expectativa é ótima, o projeto cresceu e com isso a programação pode ficar um pouco maior também. Nomes de fora, atrações relevantes, isso movimenta a ceninha um pouco. A previsão de ao menos mais 2 edições ao longo do ano já confirmadas e a possibilidade de mais outras também me anima bastante, por deixar o projeto ativo e vivo o ano todo, movimentando cada vez mais a cidade, ampliando público e a marca.

Quais são as influências do Kino? Em que Festivais gringos ele se espelha?
As influências são muitas, tão grande quanto o mundo da arte pode ser. No meu sonho o KB pode se tornar como uma grande bienal onde todo tipo de manifestação de arte pode aparecer. Mas voltando pra terra, me espelho em festivais como Transmediale, Mutek, Sónar e os brasileiros Multiplicidade, Live Cinema, Novas Frequências e muitos outros.