3˚ edição da coletânea organizada pelo Festival Kino Beat, com foco na produção digital e eletrônica do Rio Grande do Sul.
quarta-feira, 31 de maio de 2017
13˚ Mapping Festival em Genebra
Entre os dias 24 e 29 de maio estive em Genebra para a 13˚ edição do Mapping Festival - visual audio + deviant electronics. O festival é um espaço único no cenário artístico da Suíça e já estabelecido como rota para artistas e entusiastas de todo o mundo, com interesse em cultura digital e arte audiovisual. O festival se desdobrou sobre o tema central “Digital Shifts”, com programações divididas em 3 eixos, Mapping Live (Live P.A, Live AV, DJs), Mapping Expo (Exposição) e Mapping Lab (Fórum e Workshops).
O festival teve seu início no dia 11/05 com a abertura da exposição DISNOVATION.ORG, dos artistas franceses Nicolas Maigret & Maria Roszkowska. A exposição foi um dos pontos altos do festival, com 5 instalações que traduziam com bom humor e invenção o presente e futuro da ideologia da inovação tecnológica.
Mapping _ Digital Shifts 2017 /// DISNOVATION.ORG exhibition opening /// 11 May 2017 @ ACT from mappingfestival on Vimeo.
Mapping _ Digital Shifts 2017 /// DISNOVATION.ORG exhibition opening /// 11 May 2017 @ ACT from mappingfestival on Vimeo.
The Pirate Cinema
Instalação mais conhecida do coletivo, que aborda temas como onipresença e vigilância, analisando e expondo em tempo real transferências de arquivos torrent. A instalação cria um cut-up aleatório que também pode ser visto como um zapping digital, e reflexo da baixa retenção e atenção a conteúdos audiovisuais online.
Predictive Art Bot
Um algoritmo que se alimenta de discussões online para criar conceitos e previsões artísticas. A metáfora perfeita para a morte do curador/artista e uma ode ao transhumanismo, deliberando a criatividade criadora as máquinas.
O outro ponto alto do festival foi o fórum Paradigm Shift, nos dias 24 e 25, com 5 palestras por dia, artistas, jornalistas, curadores, designers e políticos, apresentaram falas a partir dos temas centrais “Technology Now, Society Tomorrow” e “The Religion for a Brave New World”. O fórum explorou a complexa relação entre homem-máquina, interatividade e como a internet e a tecnologia vem transformando a cultura.
Me, Myself and My Avatar
Apresentação dx artista virtual LaTurbo Avedon, um avatar de gênero mutante que cria instalações e performances artísticas em ambientes virtuais.
On the Move: Shaping Europe’s Future Through Artistic Mobility and Global Cultural Networks
Representantes de festivais e organismos de cultura da Europa apresentaram exemplos de intercâmbio cultural e alternativas para uma Europa unida pela cultura e arte.
A mostra de filmes KINOTRON realizada em parceria com o charmoso cinema Spoutnik, que tem um bar dentro da sala de cinema, foi uma descoberta excêntrica do período comunista na Ucrânia, uma tentativa de fazer filmes científicos mais atrativos e poéticos.
The analogy emerges immediately: cyclotron, synchrophasotron, etc.
It’s all about the highest velocities and giant energies.”
From Felix Sobolev archive
Confesso que as apresentações ao vivo, que integravam o eixo Mapping Live, deixaram um pouco a desejar pela quantidade, esperava mais artistas e também um pouco mais de variação nas propostas, especialmente nas performances audiovisuais ao vivo. O que mais me chamou a atenção e também foi a performance mais comentada no festival foi o trabalho, FIELD, do canadense Martin Messier.
Com a ideia de que é possível criar sons a partir de um campo eletromagnético, o artista usa microfones que captam as partículas elétricas para disparar o trabalho. Dois painéis escultóricos servem de entrada e saída para conexões que se formam para o controle dos sons. A iluminação em movimento cria frames e uma narrativa acidental a parte, ampliando e cortando a ação do artista na parede/tela.
Ainda dentro do eixo Live, foram realizadas 3 festas na sala Zoo, que faz parte do incrível centro cultural Usine. As noites foram dominadas pelo Techno e suas variações, do mais cru e sujo da romena Borusiade, ao minimalismo do italiano Neel.
O Sueco Peder Mannerfelt apresentou um dos lives mais autênticos da programação, com influências que iam da percussão africana ao techno industrial, com padrões rítmicos tortos e momentos de contemplação, uma dinâmica que não é pra qualquer pista.
Os VJs tinham lugar de destaque nas noites, cada dia com um especialista, destaque para o Húngaro Bordos, que no último dia apostou em uma cabine 3D, projetando em uma tela disposta na frente dos DJs.
Senti falta de mais artistas Suíços na programação do festival, fator que a curadora Justine Beaujouan atribuiu a uma cena ainda pequena no país. Mesmo sendo um festival já estabelecido e com 13 edições, esse tamanho da cena também pode ser responsável por um festival com público um pouco reduzido, mas vale lembrar que Genebra é uma cidade com menos de 400 mil habitantes. O Mapping é um festival com compromisso na inovação e fomento da cena, da qual eles são os pioneiros no país, feito com carinho por muitos voluntários, algo típico em festivais europeus.
Foi uma ótima experiência visitar o festival, ampliar a rede de parceiros, conhecer novos artistas e ideias, que com certeza serão assimiladas e de alguma forma aplicadas no Kino Beat. A minha viagem foi um convite da fundação Pro Helvetia, ligada ao ministério da cultura Suíço, com a finalidade de estabelecer um intercâmbio entre festivais e países, que já será vista na quarta edição do Festival Kino Beat de 15 a 19 de novembro.
Gabriel Cevallos
Curador Kino Beat
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