Todo artista tem referências e para entender melhor o trabalho de cada um deles é importante saber quais são elas. Nossas atrações separaram alguns projetos que inspiram.
Espia aqui:
Fernando Velazquez indica o Labmóvel. Uma Kombi que se transforma, literalmente, em ateliê, cinema e auditório. O projeto paulista cria espaços temporários e móveis de arte. Para saber mais, aqui.
Diego Abelardo, do projeto Agnostic Orchestra: “O álbum Coisas, do maestro Moacir Santos, onde cada música leva o título de Coisa, com seu respectivo número, foi a inspiração principal para eu organizar o projeto em Fragmentos. Musicalmente passo longe da concepção do maestro, mas vejo a inspiração para além de uma fidelidade musical“, comenta em entrevista para o blog.
O japonês Ryoichi Kurokawa está entre as influências visuais e sonoras de Matheus Leston. Ao lado de Kraftwerk, Meredith Monk, Residents, Alva Noto, Ryoji Ikeda, Battles e Radiohead.
E quando se trata de música, Leston escolhe a dedo: “One Thousand Sleepless Nights (CESRV), No Better Time Than Now (Shigeto), Hesitation Marks (Nine Inch Nails), Connected (Eivind Aarset), Still Smiling (Teho Teardo & Blixa Bargeld), Mono (Pulselooper), Spaces (Nils Frahm)".
sexta-feira, 11 de abril de 2014
quinta-feira, 10 de abril de 2014
DENTRO DA CABEÇA DE FERNANDO VELÁZQUEZ
Se você pudesse dar forma para um impulso nervoso, como ele seria? Com o projeto Mindscapes, Fernando Velázquez expõe sua percepção e interpretação de mundo, guiado pelo trabalho do neurologista e escritor anglo-americano Oliver Sacks.
“Nesta série me interessa traçar analogias entre o comportamento do cérebro e a estética. Não há um interesse literal em traduzir um no outro“, explica Velázquez em entrevista ao blog.
Para compreender um pouquinho mais do que se passa na cabeça do artista, confira os vídeos abaixo:
from the mindscapes series, untitled #3 from Fernando Velazquez on Vimeo.
from the mindscapes series, untitled #04 from Fernando Velazquez on Vimeo.
quarta-feira, 9 de abril de 2014
MÚSICA ORGÂNICA X MÚSICA ELETRÔNICA: AINDA UMA DISCUSSÃO VIÁVEL?
Por Alexei Michailowsky
Doutor em Música pela UNIRIO
Com o acelerado desenvolvimento tecnológico experimentado pela indústria dos instrumentos musicais eletrônicos entre as décadas de 1960 e 1980, diversas novas possibilidades foram disponibilizadas aos usuários. E tanto nos círculos mais experimentais quanto na música pop, elas foram incorporadas e exploradas.
Dentre essas possibilidades, destacou-se o uso dos sequenciadores musicais em estúdio e nos palcos. Esses equipamentos, cujo conceito é o mesmo dos realejos do século XVIII e das pianolas popularizadas entre 1876 e 1924, já estavam presentes nos primeiros sintetizadores modulares fabricados por Robert Moog e Don Buchla e incorporaram tanto tecnologias voltadas para a integração e o gerenciamento de verdadeiros estúdios fixos ou móveis de música eletrônica compostos por múltiplos instrumentos musicais quanto de armazenamento e envio de dados. Isso se acentuou com o advento dos microprocessadores digitais e do padrão unificado MIDI. Na primeira metade dos anos 80 os sequenciadores, outrora disponíveis exclusivamente em hardware, foram transportados para os microcomputadores em versão software.
Por outro lado esses equipamentos causaram controvérsias e debates às vezes inflamados, pela quebra da relação direta entre os sons produzidos e percebidos e os gestos corporais dos músicos. Esta representa a essência do que foi consagrado como “música orgânica”: aquela que é feita por pessoas cantando ou tocando seus instrumentos em tempo real, sem intervenções de máquinas. Para os seus defensores, não importa se os instrumentos utilizados sejam acústicos, eletrificados ou mesmo eletrônicos: a interface estabelecida entre o músico e o seu instrumento deve determinar uma conexão pela qual o último evidencia-se pelas ações realizadas como uma extensão do corpo do primeiro (ou simplesmente é parte desse corpo, como no caso da voz). Nenhuma plateia tem dúvidas sobre o fato de que aquele som provém de um gesto daquele instrumentista, naquele local e naquela hora.
A música executada automaticamente por intermédio de uma máquina ou envolvendo alguma forma de reprodução sonora levou os pesquisadores acadêmicos Trevor Pinch e Karin Bijsterveld a lançar a seguinte questão: quem deve ser aplaudido numa apresentação musical onde essa situação é apresentada? Os homens ou as máquinas? Pois não raro o que as plateias testemunham, naqueles determinados local e instante, são as atuações das máquinas. Numa instalação sonora, o músico pode nem estar presente: sua participação ocorreu antes, possivelmente em outro lugar, programando e preparando o equipamento. E em certas apresentações de música eletrônica ao vivo o executante está sobre o palco, mas sua conexão com o instrumento assume uma natureza predominantemente mental e baseada na escuta. É o que podemos compreender no discurso de Dino Vicente, um importante pioneiro da música eletrônica no Brasil:
- Meu instrumento é o estúdio de música eletrônica. Ali, a junção de todos os instrumentos acaba gerando um hiper-instrumento complexo, formado por diversos aparatos (os equipamentos individuais), com vários sistemas operacionais distintos – eu procuro não implantar um sistema operacional mestre – e no instante da performance preciso dar conta desses vários sistemas... Esse hiper-instrumento foi se desenvolvendo ao longo dos anos. O trabalho nunca está acabado. Envolve sempre novas configurações e sempre, praticamente todos os dias, preciso colocar tudo funcionando. Como um agricultor, preciso plantar e colher. E nesse exercício cotidiano preciso estar sempre atento a fatores como as conexões, a disposição física de cada instrumento, a ergonomia. Eu faço parte do sistema. O Dino pilota a máquina mas a máquina também pilota o Dino e diz a ele o que deve fazer.
Por outro lado, podemos observar a preocupação da indústria de instrumentos musicais eletrônicos em desenvolver interfaces “orgânicas” para alguns de seus produtos. Após o advento do turntablismo (uma prática “orgânica” surgida a partir da subversão de uma tecnologia desenvolvida para reprodução de sons previamente gravados e que aproximou os DJs das práticas características dos instrumentistas), percebeu-se que havia espaço no mercado para novas interfaces capazes de aliar as duas perspectivas. Um exemplo está nos pads encontrados na famosa linha de samplers Akai MPC, onde o executante pode interagir com as automações sequenciadas na máquina em tempo real e disparar sons através de gestos corporais. Numa performance realizada com esses equipamentos – sendo que o hip hop e o funk carioca produziram virtuoses nos MPCs e em todos os equipamentos derivados dessa interface –estão em jogo a escuta, o domínio do sistema operacional da máquina e a destreza com uma interface destinada à execução em tempo real.
Diante do panorama colocado diante dos nossos olhos nos dias de hoje podemos então afirmar que a discussão envolvendo a música eletrônica e a música orgânica, colocando-as em polos distintos, caiu por terra. Uma não ameaça nem anula a outra. O artista pode escolher suas interfaces com seu instrumento, ou mesmo criá-las ou customizá-las, a partir de uma delas ou mesmo de ambas reunidas. E concentrar-se, bem como o seu público, no que realmente importa na arte: a expressão de conceitos e ideias.
terça-feira, 8 de abril de 2014
O QUE ACONTECE POR TRÁS DO PROJETO ORQUESTRA VERMELHA
O projeto Orquestra Vermelha, de Matheus Leston, recria um show ao vivo, no palco, apenas com gravações de som e imagem. Os instrumentos, luzes e figuras são controlados em tempo real e Leston é o único membro de uma banda completa.
Os músicos Eddu Ferreira, Gustavo Boni, Mauricio Fernandes, Paulo Braga, Richard Fermino e Sam Tiago tiveram suas participações gravadas em estúdio. Cada um ganhou a liberdade para criar e mesmo sem se conhecerem, tocam todos juntos.
Para entender melhor, veja como foi o processo no estúdio. O projeto convida o público a se questionar sobre o que é realmente música ao vivo. Vem ver:
Os músicos Eddu Ferreira, Gustavo Boni, Mauricio Fernandes, Paulo Braga, Richard Fermino e Sam Tiago tiveram suas participações gravadas em estúdio. Cada um ganhou a liberdade para criar e mesmo sem se conhecerem, tocam todos juntos.
Para entender melhor, veja como foi o processo no estúdio. O projeto convida o público a se questionar sobre o que é realmente música ao vivo. Vem ver:
segunda-feira, 7 de abril de 2014
SONORIDADE, IMAGENS E ALGORITMOS: CONHEÇA O PROJETO MINDSCAPES, DE FERNANDO VELÁZQUEZ
“Mindscapes é na verdade uma grande viagem pessoal ao meu imaginário, a forma como me relaciono com o mundo, com as imagens, com as coisas”, conta Velázquez em entrevista ao blog.
Ficou curioso? Vem ver:
Como surgiu a ideia do projeto Mindscapes?
Um dos tópicos que tangência minha pesquisa artística é a percepção, o modo em recebemos, analisamos e interpretamos o mundo.
Lendo o Oliver Sacks, o Antonio Damasio, e outros me surgiu a idéia de trabalhar a ideia de paisagens mentais desde uma perspectiva estética.
Como funcionam as imagens generativas?
Quando nós utilizamos um software de computador criamos arquivos, cada vez que abrimos estes arquivos estes se nos apresentam da mesma maneira que os deixamos a última vez que os salvamos. Este comportamento tem uma certa analogia com a materia. Poderíamos dizer metaforicamente que apesar ser compostos de invisíveis 0 e 1, eles existem como matéria, estão ali arquivados e vão se comportar sempre da mesma forma. Nos processos generativos o que existe é um script ou algoritmo que é rodado em tempo real, o arquivo em se responde também a analogia antes proposta, mas o que ele produz não, terá sempre um comportamento diferente. No caso das imagens generativas de Mindscapes, as mesmas surgem de manipular parâmetros de um algoritmo pré-programado. Trabalha-se neste caso mais do que com o conceito de edição, com a ideia de emergência onde no lugar de reorganizar o conhecido o artista explora o desconhecido, ou melhor, o possível dentro daquele algoritmo que ele programou.
Como a arte e os algoritmos, que em princípio são campos distintos, se relacionam neste projeto?
A relação da arte com a tecnologia do seu tempo é uma constante histórica. Falando especificamente em bits e bytes há mais de 40 anos de história da arte realizada com computadores. Não há nada em particular neste sentido no que remete à performance.
A atividade cerebral é o ponto de referência para o projeto, como a sonoridade e as imagens se encaixam neste contexto?
Nesta série me interessa traçar analogias entre o comportamento do cérebro e a estética. Não há um interesse literal em traduzir um no outro. Eu não utilizo dados nem medições em tempo real por exemplo. Neste sentido há uma série de equipamentos e todo um imaginário com base na realidade (topografias, raios x, etc). O meu interesse é utilizar metaforicamente esta estrutura (o conceito de rede neutral sobre tudo) para explorar estas ideias em forma de audiovisual.
O que o Mindscapes se propõe em apresentar para o público?
Acredito que a arte esteja no mundo para nos ajudar a entender as nuanças, as sutilezas e a complexidade do mundo em que vivemos. Sempre que eu apresento um trabalho artístico aspiro a tocar o espectador de forma a que ele questione as próprias crenças, intento provocar outros pontos de vista sobre este o aquele assunto. Mindscapes é na verdade uma grande viagem pessoal ao meu imaginário, a forma como me relaciono com o mundo, com as imagens, e com as coisas.
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