terça-feira, 1 de abril de 2014

ORQUESTRA DE UM HOMEM SÓ: CONHEÇA A ORQUESTRA VERMELHA, PROJETO DE MATHEUS LESTON


Propor uma junção entre imagem e som, gerando uma sensação única. Essa é a proposta de Matheus Leston e o seu Orquestra Vermelha, projeto que se apresenta no Kino Beat na noite do sábado. A Orquestra é, na verdade, um quinteto, mas apenas um dos músicos está no palco. Os outros são sombras, exibidas em tamanho real em grandes telas de LED.

Batemos um papo com Matheus, que nos contou como nasceu o projeto, e como funciona o seu processo de composição musical e imagética. “A experiência é de uma banda tradicional, pois parece que os músicos estão no palco (tanto por causa do som quanto da imagem). É música eletrônica, mas não é”, afirma.

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Como surgiu a ideia do projeto Orquestra Vermelha?
A Orquestra Vermelha é o desenvolvimento de uma pesquisa que eu já havia começado em um outro projeto, chamado Ré: um show em que eu gravava e sobrepunha uma série de loops de guitarra, baixo e teclado, construindo as bases ao vivo. As melodias eram cantadas por outros músicos que haviam sido gravados e filmados em suas próprias casas, exibidos em duas grandes telas de projeção.

Quais foram as principais inspirações para o projeto?
Puxa, é muito difícil falar em inspirações diretas. Ele é o cruzamento de muitas coisas que tenho visto e pensado há muitos anos, tanto da música como de outras áreas e artes. Talvez eu possa citar como referências conceituais mais claras a geometria e a ocupação do palco do Kraftwerk, tocar na contra luz de maneira similar ao The Mole Show, dos Residents. Talvez a influência estética mais forte seja das artes: o minimalismo americano, Olafur Eliasson, Kurt Hentschlager. Musicalmente a coisa fica impossível de definir. Vai de Massive Attack a King Crimson, de música erudita a free jazz, de Motown ao pós-rock.

O projeto questiona a significância da apresentação ao vivo hoje em dia. Referente a esta discussão, pode-se chegar a alguma conclusão?
Na minha opinião não há uma conclusão, não há uma resposta, pois não acho que haja uma pergunta. A Orquestra Vermelha está bem no meio de uma encruzilhada das relações entre áudio e vídeo, playback e ao vivo, presença e ausência, improvisação e estrutura, luz e sombra, figura e fundo, base e solo. Essas relações nem sempre são harmoniosas. Pelo contrário, algumas são contraditórias e problemáticas. Ao invés de se decidir por um lado ou outro, a Orquestra acaba se tornando uma espécie de paradoxo, tentando ser as duas coisas ao mesmo tempo. Por exemplo: é ao vivo e é playback. Talvez essa seja a melhor posição para evidenciar essas contradições. Minha única conclusão é que refletir sobre a forma de uma apresentação é cada vez mais importante.

Como funciona o processo de composição musical do projeto?
Assim que saiu o resultado do Programa Rumos (do qual o projeto faz parte) em dezembro de 2012 eu comecei a vasculhar meus HDs e juntar todos os rascunhos e anotações musicais que pude encontrar. Eu tenho grande dificuldade com composição, não consigo iniciar uma música, desenvolvê-la até o final e, em certo ponto, declará-la terminada. Acabo tendo ideias, gravando pequenos fragmentos e abandonando-os, sem nunca fazer nada com eles.

Eu selecionei, editei e trabalhei sobre os fragmentos que achei. No fim desse processo, tinha uma série de loops (e não músicas estruturadas) bastante simples. A partir dai começaram as gravações: apresentava esses loops para um músico, que gravava livremente sobre eles o que achasse melhor. Eu editava essa gravação e apresentava para o próximo músico, e assim por diante.

Depois das gravações dos seis participantes, eu ouvi tudo o que havia sido gravado e editei todo o material. Em muitos casos as músicas haviam se transformado totalmente e já não tinham nada a ver com a base inicial. E com todo o material editado, fiz várias experiências e versões até chegar na estrutura final do show.

E a composição das imagens do projeto, se deu de forma semelhante?
Os vídeos exibidos ao vivo são as imagens reais das gravações. Enquanto os músicos gravavam eles também eram filmados em frente a um fundo branco, na contraluz. Ao editar o áudio eu também editava o vídeo, para manter a sincronia. E com o show estruturado musicalmente, passei a trabalhar as imagens e definir as cores, criar alguns efeitos e programar a iluminação, que também é controlada ao vivo.

Qual a relação entre música e imagem no Orquestra Vermelha?
Eu parto do princípio que audição e visão são totalmente interligadas. Não tenho dúvida de que o som muda a maneira como nós entendemos uma imagem. E o contrário também é verdade: nós ouvimos de maneira diferente de acordo com o que estamos vendo. Por isso eu penso que um show é sempre uma experiência visual, mesmo quando não há efeitos cênicos, vídeos, iluminação. O próprio fato de ver um músico tocando faz com que a gente ouça de maneira diferente.

Na Orquestra Vermelha essa relação é levada ao extremo e posta em primeiro lugar. Os vídeos não são apenas um acompanhamento das músicas, eles são parte integrante do espetáculo.

A música eletrônica abre espaço para o experimentalismo. O que isso acrescenta ao processo criativo e ao resultado final?
A relação entre música eletrônica e instrumentos tradicionais também é uma das possíveis contradições da Orquestra. Não seria errado dizer que é um show eletrônico: estou apenas eu no palco com computadores. Todas as gravações dos outros músicos são samples digitais. Porém a experiência é de uma banda tradicional, pois parece que os músicos estão no palco (tanto por causa do som quanto da imagem). É música eletrônica, mas não é.

Um comentário:

  1. Pelo conteúdo do artista, suas influências e um formato inovador de apresentação...Tô louco pra ver!

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